A escritora de livros infantis Débora Jardim Jardim utiliza a literatura como ferramenta pra disseminar informação entre as crianças
Texto: Ricardo Rodrigues / Fotos: Arquivo pessoal e Divulgação
— Eu quero é contar uma boa história.
Assim inicia a conversa com a bibliotecária e escritora Débora Jardim Jardim sobre o seu trabalho com literatura infantil. Aos 36 anos e mãe de dois filhos, foi uma crise financeira que motivou a busca por uma atividade que pudesse suprir as lacunas que surgiram. Mas a veia artística já existia, e a inspiração estava bem ao lado, em sua própria família.
Em pouco mais de trinta minutos de entrevista, Débora falou sobre sua relação familiar, trabalho, a temática social fortemente presente em seus livros e o mercado editorial independente.
— Sempre imaginei histórias, era muito atenta ao meu redor, mas nunca botava no papel.
Quando percebeu que passaria por momentos difíceis, devido à uma crise financeira onde trabalhava, a bibliotecária resolveu que era a hora de colocar todas essas ideias no papel e, quem sabe, obter algum retorno com essa atividade.
— Me deu uma vontade muito grande de escrever, e percebi que a literatura infantil era o meu caminho.
Sua primeira experiência na escrita falava sobre uma criança envolvida com perdas familiares. A segunda história que escreveu tinha como personagem principal uma menina que não gostava de brincar de bonecas, e o terceiro mostrava um menino que não jogava futebol – ambos inspirados em seus dois filhos, focando a questão do comportamento. Um quarto livro foi direcionado para a estrutura familiar diferenciada.
— Minha família, naturalmente, inspirou essa história. Meu marido cozinha, e eu, além de cultivar o gosto mpor tatuagens, escutava rock com as crianças, ou seja, algo pouco usual.
Mas foi com a quinta história que iniciou o processo de busca por uma editora e, assim, viabilizar seu projeto.
— Tenho um grande amigo, o Paulo, que é deficiente visual. Foi ele o inspirador desse trabalho. Queria que as crianças entendessem aquele universo, composto por dúvidas que eu tinha quando o conheci.
Assim, Débora lançou em 2009 “Meu amigo é diferente”, pela Lew Editora, com ilustrações de Nádia Poltosi. Na história, Clara, freqüentadora assídua da biblioteca de sua escola, conhece um novo aluno, Carlinhos, que não via o mundo com os olhos, mas com a imaginação, a partir de sons, sentimentos, sensações e perguntas. Além de conhecer mais sobre o mundo do novo amigo, houve um grande intercâmbio de universos, fato que ocorreu na vida real.
Na foto, Débora na companhia de Paulo e da ilustradora Nádia Poltosi
O segundo livro, publicado em 2010 também pela Lew Editora, se chama “Os estranhos amigos de estimação de Malú”. Ilustrado por sua mãe, Rute Jardim, a obra foi inspirada no gosto por animais exóticos cultivado pela menina Taíssa Panferov e também pela própria autora. Mas o processo de publicação, segundo Débora, é uma questão delicada, principalmente para os autores independentes.
O processo de publicação
A autora conta que publicou sua obra com recursos próprios. Pagou a impressão e contou com a ajuda de amigos e familiares para a ilustração, e ela própria realizou a diagramação.
— A publicação é feita por meio de uma parceria com a editora. Eles não financiam a impressão. Eu forneço um número definido de livros para eles venderem e em troca tenho o nome da editora. Assim, auxilia na divulgação deles, e eu tenho mais abrangência do meu trabalho.
Débora conta que o processo normal é longo. Algumas editoras podem demorar até dois anos para publicar um título. Existe uma longa fila de espera de outros trabalhos que, caso o ilustrador for requisitado, o processo se intensifica, sem contar a diagramação.
— E normalmente as editoras ficam com 90% das vendas, e o restante para o autor. Por isso que, para muitos, a saída é cobrar cachê para participar de eventos.
Seus livros são vendidos em feiras específicas, empresas e diretamente para escolas, que compram devido às características educacionais de suas histórias.
Novos projetos
Atualmente Débora trabalha no terceiro livro, cujo texto já está pronto. O próximo passo é definir o ilustrador. “As cores e os olhos de Chico” conta, por meio de versos, a história de um menino daltônico. Chico tem os olhos verdes, mas por sua natureza essa cor ele não enxerga. E os olhos verdes remetem ao cantor Chico Buarque.
— O livro é um paralelo entre esses dois mundos, minha intenção é que as crianças possam ampliar conhecimento sobre um assunto ainda bastante desconhecido — conta.
A autora liberou um trecho dessa história: “Para as músicas escutar / e o mundo de Francisco compreender / com as cores Chico não precisava se preocupar / só a emoção precisava ter”.
56ª Feira do Livro de Porto Alegre
O trabalho educacional vai além da literatura. Débora já foi convidada diversas vezes para ministrar oficinas sobre o tema em escolas, trabalhando, por exemplo, os temas diferença e amizade com as crianças, todos presentes em suas narrativas. Adultos também estão incluídos nos debates. A próxima iniciativa é a oficina “Todos somos diferentes”, que será realizada durante a Feira do Livro de Porto Alegre, e também a sessão de autógrafos do livro “Os estranhos amidos de estimação de Malu”.
— Só o conhecimento te permite perder preconceitos — enfatiza a autora.
Oficina “Todos somos diferentes”, com Débora Jardim Jardim
Data: 08/11
Local: Ducha das Letras – Cais do Porto – Área Infantil e Juvenil
Horário: 15h (para crianças) e 18h (para adultos)
Observação: é necessário inscrição prévia para participar da oficina. As inscrições são realizadas no andar térreo do Margs.
Sessão de Autógrafos “Os estranhos amidos de estimação de Malú”
Data: 14/11
Horário: 17h
Local: Deck dos Autógrafos – Cais do Porto
Para saber mais sobre o trabalho de Débora, visite o blog http://www.meuamigoediferente.blogspot.com